Resenha: História do Povo de Deus

O autor da obra, Euclides Balancin, em “História do Povo de Deus”, decide abordar de maneira peculiar a história do povo hebreu. Já no início o autor diz que o povo, ou seja, as pessoas comuns, de maneira geral, não gostam de datas, documentos, explicações compridas, bibliografias, etc. Nas palavras do Balancin (1989, p. 7) “[o povo] prefere criar, contar “causos”, fazer comparações, inventar cantos.” Com isso, o autor quer dizer que essa obra tenta expor a história bíblica com este mesmo viés de informalidade.

BALANCIN, Euclides Martins. História do Povo de Deus. 7ª. ed. São Paulo: Paulus, 1989.

Ainda, ao explicar como será o desenrolar do livro, ele explica que os acontecimentos conservados na Bíblia têm esse mesmo caráter de “histórias contadas pelo povo”, ou seja, passadas de geração em geração sem a necessidade de trazer grandes detalhes, ou ainda não tem o intuito de provar que são dados históricos. A exceção bíblica dar-se-á nos arquivos oficiais conservados dos relatos dos reis.

Em poucas palavras, a obra tenta retratar, a história do povo de Deus de maneira comprometida com o povo que a escreveu. Para tal, apesar de não os citar, Balancin recorre a autores que o ajudaram a entender o pano de fundo daquilo que é contado nas sagradas escrituras. Desta maneira, a lembrança de fé e luta desse povo poderá trazer lições para a nossa vida e para o nosso cotidiano.

DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA

A obra está dividida em quarenta e cinco capítulos. Cada capítulo, por sua vez, subdivide-se em pequenos trechos que contam a história conforme proposta pelo autor, ou seja, como se fossem “causos” de um povo. Percebe-se, claramente, que o autor não pensa em dar o enfoque mítico que muitas vezes é descrito na bíblia, porém, ele traz os detalhes das histórias como fatos que facilmente ocorreram naquela sociedade. Durante o texto, ele apresenta as possíveis datas dos acontecimentos e, toda vez que um termo não muito usual é introduzido, o autor faz um adendo conceituando essa nova palavra.

A estrutura do livro se difere bastante da Bíblia. Ela conta a história de maneira cronológica e muito parecida com um romance. Um outro autor que tenta fazer isso de maneira esplêndida é o J. J. Benítez nas suas obras “Operação Cavalo de Tróia”. O Benítez, baseado nos evangelhos e em leituras que explicam como era a sociedade nos tempos de Jesus, cria uma história fictícia de um viajante no tempo que conhece o nazareno e seus seguidores. Entretanto, em “História do Povo de Deus”, apesar de trazer o mesmo “ar” informal de leitura, não se propõe a criar uma história fictícia, mas apenas retratar quase dois mil anos de histórias de maneira mais simples e palatável.

Apesar do enfoque do livro não ser teológico, o autor se compromete, ao final de cada capítulo, trazer uma “leitura com fé”, ou seja, ele entende que o povo de Deus “[…] ao mesmo tempo, vê os acontecimentos como instrução de Deus, que liberta e corrige” (Balancin, 1989, p.7). Portanto, antes de concluir cada capítulo, traz uma expressão e leitura de fé do povo aos acontecimentos discorridos nos capítulos.

Por fim, na maioria dos capítulos, ele traz uma aplicação ou questionamento para os leitores fazerem da sociedade atual. Um paralelismo entre o tempo vivido pelos hebreus e a contemporaneidade é levantado.

DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO

Relato geral sobre a história do período bíblico

No início do livro, o autor traz à lembrança o fato que o povo gosta de contar histórias de famílias e, nessas histórias, conservam-se os acontecimentos mais amplos, contando a história de um todo. O autor argumenta que a Bíblia tem o mesmo propósito: contar a história da origem de um povo: o povo de Israel. Nesse início, ele afirma que, ao contar a própria história o povo floreia, mas o essencial permanece lá.

Ao iniciar o relato das origens do povo, o autor aborda uma característica importante já no princípio, o fato do povo ser inconformado com a situação político-econômica que eles viviam. Viver debaixo do julgo das cidades-estados denotava viver uma vida de injustiça, uma vez que os impostos pagos serviam para financiar os luxos da classe dominante em contraste com as necessidades mais urgentes do povo e, desta forma, oprimindo-os. Portanto, o primeiro patriarca já sai desse contexto de cidade-estado e vai viver como clã agrário. Essa escolha de vida traz uma segurança mais reduzida, mas com uma liberdade mais abastada.

O início da história tem sua data incerta (entre 1900 a 1350 a.C.). Contudo, o que se tem convicção é a diferença entre YHWH e os outros deuses: enquanto os outros ficavam em templos e eram adorados porque mantinham a ordem, Deus era próximo e ia com o povo por toda a parte.

Ainda em seu período embrionário, nos tempos do patriarca Jacó, um de seus filhos, o José, foi vendido como escravo e vai parar no Egito, contudo sua sorte é mudada e ele se torna um governador proeminente naquela nação. Durante um grande período de fome na terra, Israel e seus filhos vão parar no Egito a procura de comida, mas devido a posição favorecida de José, são bem quistos naquela região.

Com o passar dos anos e a morte de José, é levantado um novo faraó que oprime e escraviza o povo hebreu. É nesse período, de dor e sofrimento, que Moisés surge para libertar o povo.

Devido a algumas intempéries da vida, Moisés foge para a terra de Midiã e lá ele se casa com a filha de um sacerdote. Passando, em seguida, a pastorear as ovelhas do seu sogro. É nesse período que ele é impelido a voltar ao Egito para libertar o povo o qual ele fazia parte.

Após a saída da opressão egípcia, o povo enfrenta a dura realidade do deserto, caminho esse que os levariam para a terra de Canaã. Sentimento de insegurança, pressão dos dominadores e a escassez dos bens de consumo, levam alguns a desejarem voltar para a escravidão.

Contudo, após de cerca de quarenta anos no deserto, os hebreus do Egito e os seminômades do deserto do Sinai se encontram com outros grupos e, desta união, forma-se o povo de Deus. Em destaque, um grupo que vivia na própria Canaã, agricultores, descontentes com a situação de miséria que viviam e dos trabalhos que eram forçados a fazer.

Ao se unir e expulsar parte do povo que vivia na região de Canaã, é estabelecido um sistema de governo que tinha como objetivo não deixar o povo sofrer a mesma opressão outrora vivida no Egito, ou ainda, a injustiça vivida nas cidades-estados daquela região. Algumas assembleias eram organizadas com os adultos para adorar a YHWH e para produzir normas orientadoras, elaborar e promulgar leis, além de repartir igualitariamente as terras. Foi nesse período que instituíram juízes para uniformizar as leis de cada tribo e, com isso, julgar os casos pendentes.

Apesar do ideal ser nobre, na prática, algumas cidades-estados continuaram existindo e, unindo ao fato dos ataques externos sofridos por países vizinhos, o povo conclama a necessidade de um rei “como as outras nações” (Bíblia, 1 Sm 8.1-9). Esse rei, além de ter direitos, teria deveres em relação ao povo que governa: defender o país das forças externas e fazer justiça para com o povo. Não deveria ser concebido um rei que ajuntasse para si muitos bens e muitas mulheres.

Nesse contexto, Saul, guerreiro da tribo de Benjamin, é eleito rei. Contudo, sua trajetória, apesar de bela no início, entra em decadência e surge, da tribo de Judá, o jovem Davi que se tornaria rei após a morte de Saul e seus descendentes.

Davi tem uma história de ascensão muito diferente de Saul: antes de se tornar rei, cria seu exército a partir de homens marginalizados e aprende sobre fundição de metal e táticas de guerrilhas com o exército inimigo filisteu.

Ao ascender ao trono, Davi consegue unificar as doze tribos e coloca a capital do reino em Jerusalém. Os tempos de Davi foram de grande prosperidade e justiça pois, até mesmo com os impostos excessivos que ele cobrava, gerava serviços que beneficiava o povo.

Davi enfrenta revoltas internas a partir de seus próprios familiares, contudo, antes de sua morte, elege seu filho Salomão como sucessor do trono. Salomão foi um rei sábio e religioso. Ficou conhecido pelo imenso acúmulo de riquezas, altos impostos e boa diplomacia com os reinos vizinhos. Dentre seus grandes feitos, destaca-se a construção do templo de Salomão.

Com a morte do rei, assume seu filho Roboão que, ao invés de diminuir os impostos, uma vez que o templo, causador do aumento da carga tributária, havia sido construído, aumenta-os ainda mais, levando a uma revolta popular e cisão do reino em duas partes, deixando as tribos de Judá e Benjamin sobre sua jurisdição, chamado de reino do Sul e as outras dez tribos, chamadas de reino do Norte, sobre a guarda de Jeroboão. O reino do Norte ficou doravante conhecido como Israel e o reino Sul como Judá (ou Judéia).

Com a divisão do reino, inicia-se a era dos profetas. Esses homens, por serem “enviados da parte de Deus” eram usados para chancelar e dar autoridade do governo vigente. Contudo, alguns deles não concordavam com os ideais do governo quando eles não seguiam os preceitos estabelecidos de justiça e preservação da vida. Esses profetas eram ligados às raízes do povo e, em especial, buscavam rever e julgar o que estavam acontecendo e garantir que a sociedade que estava sendo formada era justa e fraterna.

Com o declínio do império egípcio e a ascensão dos assírios, o reino de Israel é tomado por esse povo. Seu sistema de domínio envolvia pagamento de impostos, lavavam para o exílio a classe dominante e introduziam gente de outros lugares no meio daquela nação. Por consequência, a nação dominada se tornava uma simples colônia, sem direito político, econômico ou religioso.

Enquanto o reino de Israel caminhava para seu fim, o reino do Sul ia se degradando. Essa degradação, diferente do reino do Norte, começou internamente, quando o reinado vigente decidiu seguir os preceitos de Baal. Outra diferença, foi o fato do rei evitar o conflito com os Assírios e pagar o imposto a eles. Por fim, o rei Manassés aderiu ao culto pagão, chegando até a fazer sacrifícios humanos.

O Egito volta a crescer e substitui a Assíria como potência dominante, a Babilônia cresce e passa a dominar Israel e Judá ao invés do Egito.

Para o reino do Norte a situação era bem complicada: após o exílio sofrido na época do domínio Assírio e agora sofrendo com a dominação Babilônica, as diferenças com o reino do Sul aumenta ao ser desprezados por eles.

Ciro, general Persa, conquista toda aquela região. Com isso, os persas exigem apenas o pagamento de impostos e liberando os estados dominados a uma certa autonomia política e religiosa. É nesse período que surge Esdras e Neemias com o intuito de retomar o culto a YHWH em Jerusalém.

A história das dominações não termina por aí. Alexandre, filho do rei Felipe da Macedônia, em apenas doze anos, conquista todo o império Persa e, por consequência, passa a dominar Judá e Israel. Como consequência da dominação, a língua grega começa a se espalhar por todo o mundo. O povo hebreu já conhecia muito pouco a sua própria língua, como resultado, uma tradução denominada Septuaginta foi feita com o intuito de trazer do hebraico para o grego as sagradas escrituras. Mas não foi só a língua que tomou conta do povo hebreu. Os gregos minavam a cultura e as tradições antigas, fazendo com que muitos participassem dos seus eventos. Por fim, já estavam profanando o templo de YHWH através de sacrifícios de porcos.

É nesse período que uma ala da população não fica satisfeita e acontece a revolta dos Macabeus. Essa revolta teve como principal consequência, a busca pelo império romano para ajudar a acabar com o domínio grego naquela região. Contudo, a “ajuda” não sai de graça: a região passa a ser dominada pelos romanos que, através de uma aparente liberdade política, escolhe governantes que o agradem.

É sobre esse período que surgem os partidos dos Saduceus, Fariseus, Zelotes, Essênios e os “Bandidos Sociais”. Pode-se dizer que não existia um único judaísmo, mas judaísmos, devido a grande diferença nas crenças daquele povo.

Foi nesse contexto, sob o domínio romano, tendo como rei Herodes, o grande, que nasce Jesus de Nazaré. Israelita que viveu na região da Palestina no primeiro século.

Compreensão teológica da história do povo de Deus

No tópico anterior, de maneira análoga ao livro, foi dado enfoque apenas a historicidade dos fatos sem contar, entretanto, qual a compreensão teológica dos acontecimentos. Conforme dito anteriormente, o autor afirma que na compreensão do mundo para o povo de Deus, “[…] ao mesmo tempo, vê os acontecimentos como instrução de Deus, que liberta e corrige” (Balancin, 1989, p.7). Portanto, ao querer retratar a história do povo hebreu, é salutar imaginar que, apesar da forma literária da maioria dos escritos bíblicos se assemelharem a “causos” antigos, o enfoque das sagradas escrituras permeia a noção de integralidade do ser. Ou seja, o ser humano tem seu lado emocional, relacional, mas também a sua religiosidade faz parte de uma característica ontológica.

Desta forma, ao reescrever os acontecimentos bíblicos de maneira cronológica e simples, o autor separa uma seção denominada “contar a história com fé” que, sem dúvida, descreve o plano de fundo teológico por traz da descrição dos acontecimentos.

Já no início do livro, o autor traz a noção que YHWH é diferente dos demais deuses do Antigo Oriente Próximo. Primeiramente devido a não morada em templos e, em segundo lugar, a noção de um Deus que nos acompanha para onde quer que vamos. Esse é o Deus de nossos pais, de Abraão, de Isaque e de Jacó.

Ao ir parar no Egito, Jacó e seus filhos entendiam que até mesmo na venda do seu irmão havia um propósito divino. O Deus todo poderoso havia preparado aquele momento para que todo o clã fosse preservado da seca que assolava a face da terra.

Apesar da escravidão que sucedera com o povo no Egito, eles entendem que Moisés é enviado pelo próprio Deus para libertá-los e, com sua mão poderosa, realiza feitos maravilhosos que culminam a saída do Egito. “Tudo foi conseguido com luta, mas essa luta não teria dado em nada se o Deus dos hebreus não estendesse o braço e sua mão forte” (Balancin, 1989, p. 12).

No deserto é o momento que o povo descobre a dependência e o cuidado de YHWH. É lá que recebem as tábuas da lei e aprendem a contar sobre esses acontecimentos de pai para filho.

Ao chegar em Canaã, novamente o esforço humano seria inútil se não fosse a intervenção divina. A terra, prometida pelo próprio YHWH a descendência Abraão, finalmente é conquistada. Ao chegar nela, eles se reúnem e utilizam a forma de governo instituída pelo próprio Deus: baseada no decálogo e no código do Deuteronômio, o próprio YHWH levanta juízes para os momentos mais difíceis. Toda vitória conseguida era creditada ao fato de Javé está com eles. As leis formuladas foram dadas pelo próprio Deus, logo a partilha e fraternidade faziam parte de um grande plano elaborado por Javé.

Ao desobedecerem aos decretos divinos, os ideais de fraternidade e justiça de uma comunidade participativa não é mais levado adiante. Desta maneira, surge a necessidade de buscar outro tipo de segurança.

Mesmo Javé apresentando seu ideal de vida para o povo, Ele não impõe a sua vontade a seus filhos. Logo, quando o povo escolhe a figura de rei para governa-los, YHWH concede deixando claro, contudo, que essa é uma afronta ao próprio Deus.

É interessante ressaltar que o povo pede um rei “como os outros povos”. É exatamente com essas características que Deus levanta Saul como rei. Apesar de se mostrar fiel aos preceitos de YHWH no início, o benjamita se afasta do ideal de justiça divina (como o rei dos outros povos). Após a sua morte (e a morte de seu filho Ishbaal), Davi é coroado rei.

A trajetória de Davi é muito abençoada por Javé desde a sua juventude. Em suas conquistas, ainda muito novo, ele sempre lutou “em nome de Javé dos exércitos”. É com essa confiança que Davi une as tribos e Israel se torna uma única nação forte e próspera. Sem dúvida, ser “um homem segundo o coração de Deus” (BÍBLIA, I Sm 13.14) leva o povo aos melhores anos que eles já viveram.

Com a morte de Davi, Salomão é ungido rei. Assim como seu pai, Salomão se destaca por desde o início do reinado depender totalmente da graça divina. YHWH ao perguntar qual desejo Salomão gostaria que se realizasse, o rei pede sabedoria para governar o povo. Com esse pedido tão nobre, Deus concede sabedoria e riquezas que a nação de Israel jamais conhecera.

Salomão vê o seu declínio quando passa a não cumprir as ordenanças de YHWH no tocante a Justiça Social e ao descumprimento do primeiro mandamento, levando deuses estranhos para serem cultuados em Israel. Após a sua morte, seu filho Roboão segue os seus passos e também age injustamente para com o povo. Logo, ao descumprir os preceitos de Deus, o reino é dividido e Jeroboão fica com o reino do Norte.

Jeroboão também segue com a idolatria e opressão ao povo do reino do Norte, por consequência, YHWH permite que os Assírios invadam e dominem sobre toda aquela região.

No reino do Sul a história não muda muito, os assírios também tomam o governo, mas não agem de maneira tão cruel para com os remanescentes de Davi.

Durante esse período de infidelidade dos reis, Deus sempre levanta uma voz profética para guiar o povo. Os profetas são os porta-vozes da vontade de YHWH e denotam a presença da própria ação e palavra de Deus na história. Portanto, a palavra deles é para o povo não é uma palavra qualquer que possa ser contestada, mas é a própria palavra de YHWH.

O povo continuou submisso a nações poderosas e injustas graças a sua infidelidade para com Deus. Contudo, a história muda quando Matatias não aceita as imposições e blasfêmias que estavam acontecendo. Ele e seus descendentes fizeram o que foi conhecido como “Revolta dos Macabeus”. Nesse período YHWH os abençoou e eles conseguiram de volta muitos benefícios, como a liberdade religiosa. Foi a partir daí que Deus mandou na terra seu filho unigênito Jesus.

ANÁLISE CRÍTICA

A obra consegue atingir o seu objetivo: Com uma linguagem simples e leve, o autor conta a história do povo de Deus de uma forma cronológica, rica em detalhes, sem perder o caráter romancista.

Passando pelo início dos primeiros patriarcas, a formação dos primeiros clãs agrários e desembocando no nascimento de Jesus de Nazaré, o intuído de trazer ao leitor as nuances que envolveram a formação de um povo não passou em branco.

Claramente, percebe-se que o autor utilizou fontes extra bíblica para contextualizar o leitor. Esse recurso é excelente, pois aspectos referentes aos povos que viviam ao entorno, como cananeus, assírios, babilônios, etc. se tornam fundamentais para quem quer entender a cosmovisão do indivíduo daquela época. Entretanto, o autor peca por não fornecer as fontes que ele utilizou, o que enfraquece um pouco a utilização da mesma no meio acadêmico.

Haveria ainda uma série de outros detalhes nas histórias que poderia ser abordado pelo autor, contudo é certo que os aspectos fundamentais para o entendimento da história do povo de Deus foram alcançados.

RECOMENDAÇÃO DA OBRA

A obra é fortemente recomendada para todos que tem interesse na história do povo hebreu. Independente de judeu, cristão católico ou protestante, a forma cronológica e como “causos” contados de pai para filho que o livro aborda, facilita a compreensão e o entendimento de maneira holística de toda a história.

Entretanto, pela ausência de referências, no meio acadêmico, a utilização da obra deve ser feita com parcimônia. Não há como verificar se alguns aspectos descritos pelo autor vieram de fontes confiáveis. Como conhecedor da bíblia, será fácil atestar a veracidade da maioria das histórias, contudo há uma série de conclusões/argumentações que interferem nas características do povo que necessitariam dessas fontes.

No mais, para os leitores das sagradas escrituras, a obra é de leitura obrigatória. Por diversas vezes, o desenrolar da história lendo “apenas” a bíblia, não deixa muito claro o panorama geral dos acontecimentos. Segundo Zabatiero (2017, p.24),

“[…] precisamos cuidar do hábito de ler “perícopes” homileticamente (ou seja, lemos pequenos trechos pensando no próximo sermão, ou lemos pequenos trechos e os interpretamos dentro dos limites da igreja e do ministério pastoral) – cuidar, sem abandonar. Precisamos nos habituar a ler livros inteiros da Bíblia, tentando entender o conjunto da mensagem de cada um desses livros; precisamos retomar o hábito de ler a Bíblia toda em curtos períodos de tempo (um ou dois anos), mas não só para “ler”, e, sim, para notar (e anotar) as recorrências temáticas que passam pela Bíblia toda, pois essas repetições temáticas são uma importante pista para entendermos o que é relevante para o Reino de Deus.”

Assim, enquanto a cultura da “má leitura” ainda sonda as nossas igrejas, a leitura dessa obra se torna um remédio paliativo para esse problema.

IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR

Euclides Martins Balancin se destaca como um bom biblista. Sendo “História do Povo de Deus” uma de suas obras mais lidas, ela é apenas uma numa série de obras denominada “Como ler a Bíblia”. Além desse livro, nessa coletânea de mais de 70 livros, ele ainda escreve “Como ler o livro de Gênesis”, “Como ler o livro de Êxodo”, “Como ler os livros de Samuel”, “Como ler o livro de Eclesiastes”, “Como ler o livro dos Cânticos”, “Como ler o livro de Amós”, “Como ler o livro de Miquéias”, “Como ler o livro de Habacuque”, “Como ler o livro de Sofonias” e “Como ler o Evangelho de Marcos”.

Além dessas obras, ele ainda escreve “Conhecer a Bíblia”, “Conheça a Bíblia”, “Guia de leitura aos Mapas da Bíblia”. Uma obra bastante criticada escrita em conjunto com Ivo Storlini, foi a Bíblia Sagrada Edição Pastoral. Segundo Wikipedia (2017), as notas de rodapé e introduções aos livros bíblicos são baseadas na Teologia da Libertação. Essa versão de estudo bíblico, voltada para o uso de leigos e devocional, tornou-se uma das edições mais vendidas no Brasil, ultrapassando trinta reimpressões da edição com texto integral.

Apesar de uma quantidade de obras consideráveis, o Balancin entra no ostracismo quando procuramos a respeito dos detalhes da sua vida. O que se pode inferir é que ele é/foi católico e, por um período de sua vida, advogou a respeito da Teologia da Libertação.

Por fim, ao procurar sobre a vida de Euclides Balancin nas diversas ferramentas de busca na rede mundial de computadores, poderíamos aplicar a máxima de autor desconhecido: “Se não está no Google, não existe”. Contudo, devido ao seu grande legado, através de suas obras, seria mais justa a referência “sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida […], ele permanece sacerdote para sempre” (BÍBLIA, Hb 7.3).

REFERÊNCIAS

BALANCIN, Euclides Martins. História do Povo de Deus. 7ª. ed. São Paulo: Paulus, 1989.

BENÍTEZ, J. J. Cavalo de Tróia 1: Jerusalém. Tradução de Hermínio Tricca. 1 ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

BÍBLIA, Português. Bíblia de Estudo NVI. Tradução: Nova Versão Internacional. São Paulo-SP: Editora Vida, 2003.

ZABATIERO, Julio Paulo Tavares. Métodos de Estudo do Antigo Testamento. Maringá-PR: UniCesumar, 2017.

EDIÇÃO PASTORAL. In WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikipedia, 2017. Disponível em < https:pt.br.wikipedia.org/wiki/Edição_Pastoral >. Acesso em 04 nov. 2017.

Enock Fernandes Alves

Possui graduação em Geofísica pela Universidade Federal da Bahia e em Teologia pela Unicesumar. Especialização em: Engenharia de Poços de Petróleo e Gás pela Universidade Cidade de São Paulo (2017); Gestão de Projetos pela Unicesumar (2018); Estudos Bíblicos no Novo Testamento pela Unicesumar (2019); Estudos Bíblicos no Antigo Testamento (2020); Docência no Ensino Superior (2022). Atualmente: Graduando em Engenharia de Produção e Licenciatura em Matemática; Pós-graduando em Ciências da Religião e Ensino Religioso pela FTSA. Professor no EAD do Seminário Kerigma da Igreja Batista Atitude no Rio de Janeiro e do Seminário Superior de Teologia e Missões da Igreja Batista Betel em Aracaju.

3 opiniões sobre “Resenha: História do Povo de Deus

  • 26 de fevereiro de 2023 em 12:53
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    Achei hoje sua resenha e tenho orgulho de ser filha do Balancin. Hoje ele tem 83 anos e mora em Santa Adélia no interior de São Paulo.
    🙂

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    • 26 de fevereiro de 2023 em 13:09
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      Olá Dani!
      Você não tem noção da felicidade que eu fiquei em ver a sua mensagem!
      O livro do seu pai me ajudou e ainda ajuda a colocar o mundo do antigo testamento de maneira lógica e coerente, como um fio condutor único!
      Sempre recomendo esse livro para aqueles que estão lendo as escrituras e sentem alguma dificuldade de entender o AT… os feedbacks a respeito do livro são sempre positivos.

      Lembro na época da faculdade, quando fiz essa resenha, não encontrei na internet informações acerca do seu pai para poder fazer as referências do autor. Brinquei, inclusive, falando de Melquisedeque, por não conhecermos a história dele.
      Um forte abraço, manda lembranças pra seu pai e agradeça a ele pela excelente obra que deixou pra gente!

      Resposta
  • 11 de dezembro de 2023 em 15:42
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    Daniela, penso que você deveria escrever a biografia de eu pai, para que o Enock a divulgue: creio que que a contribuição de seu pai precisa ser divulgada, precisamos conhecer os nossos autores. Cordialmente, Ilvana.

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